É um lugar comum dizer-se que só se aprende Filosofia, filosofando...
"(...) Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde ela me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."
F. Pessoa, Livro do Desassossego
ACTIVIDADE:
Justificar, com base no texto, o carácter existencial e universal das questões filosóficas.
Um comentário:
Ao reflectirmos sobre o sentido da existência fazemos sempre perguntas perturbadoras...Quem sou?... O que faço aqui?...
Quem se conforma com o que tem dorme descansado ou fica embriagado pelos ruídos da civilização...pelo contrário quem tem a coragem de abrir a porta da estalagem...observa a sua rua e sente a brisa no rosto...mas tu...aprendiz de filósofo...atreve-te e faz-te à estrada...
marina teles
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