sexta-feira, 20 de abril de 2007

Portal dos Alunos - As Disposições da Vontade e a Autonomia da Razão

Na senda da tradição clássica da Filosofia, Kant não renegou admitir uma concepção dualista da natureza humana ( já assumida pelos mais ilustres pensadores da antiguidade, Platão e Aristóteles e pelos mais destacados pensadores modernos, como Descartes ).
Essa divisão da natureza humana subsiste e afirma-se na eterna conflitualidade entre os impulsos mais primários do corpo e a disciplina mais austera da razão que se degladiam, em cada ser humano, permanentemente dividido entre o prazer e o dever, entre as tentações do corpo e a disciplina da alma.
De facto, ao longo de toda a nossa existência, somos permanentemente assaltados pelos mais variados desejos e necessidades e constantemente instados a cumprir as mais diversas normas e obrigações a que a mais elementar sociabilidade obriga e impõe.
Kant sintetizou muito bem esse eterno conflito ao enunciar as três disposições da vontade humana: a disposição para a animalidade, a disposição para a humanidade e a disposição para a moralidade.
É no seio deste incontornável " campo de batalha" que se encontra e define a natureza humana. É no modo como cada um de nós gere essa conflitualidade onde se move a vontade, que vamos esculpindo a nossa própria natureza, o nosso carácter e personalidade, a partir das escolhas que fazemos, a partir das decisões que tomamos, a partir das acções que praticamos .
A moralidade, estando ancorada na própria racionalidade , seguirá sempre o rumo que cada um de nós escolher. Se é verdade que à partida ela se enraíza na própria Razão ou essência do Homem, também é verdade que ela não é imune às vicissitudes da existência . A aptidão natural para sermos seres morais não é condição necessária e suficiente para que o venhamos de facto a ser. É no conflito entre as disposições da vontade que se construirá a moralidade de cada um de nós.
A construção de uma moralidade vinculada aos princípios da Razão ( isto é, ao pleno e verdadeiro exercício da Liberdade) , mais do que uma máxima da Ética kantiana, constitui um desafio para a Humanidade. Tornarmo-nos seres cada vez mais dignos , é tornarmo-nos cada vez mais humanos!

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