quarta-feira, 14 de maio de 2008

Exposição Ideário: um Projecto que deu corpo às Ideias...


Desta vez, o desafio parecia maior do que no ano lectivo anterior. Já não se tratava de expor ideias exploradas no âmbito do Programa e de as tornar visíveis, mas de as materializar, convertendo-as em objectos palpáveis, que pudessem evidenciar as potencialidades criativas de uma aprendizagem que procurou investir na pesquisa, na reflexão e na imaginação colectiva de grupos de trabalho verdadeiramente motivados na partilha de ideias e de um Projecto comum.
Resta-me deixar um agradecimento sincero a todos os alunos que me acompanharam neste Projecto e que assim, mais uma vez, dignificaram a disciplina de Filosofia ao tornarem realidade aquilo que, inicialmente, seria "apenas" utopia.
Esta (a Filosofia) esforça-se, quotidianamente, por revelar aos jovens o valor e a importância intrínseca de todos os saberes, tendo a esperança que a maturação do conhecimento e da própria vivência lhes revele, ainda que mais tarde, o valor intrínseco e o papel único da Filosofia no contexto escolar mas também e sobretudo, no contexto da vida.
Com uma amizade sincera e um abraço fraterno , faço votos que o Futuro vos reserve a graça de saber ultrapassar todos os obstáculos, mesmo aqueles que pareçam, à partida, intransponíveis.

domingo, 11 de maio de 2008

Resolução de Questionário / 3º Período

1.Pela especificidade das suas características gerais, o senso comum afasta-se da natureza e objectivos da ciência; no entanto, para que o conhecimento vulgar se constitua como um obstáculo epistemológico, destacam-se alguns desses atributos, nomeadamente, o facto de ser um conhecimento subjectivo, relativo e de não reconhecer os seus próprios limites e insuficiências.

2.Designam-se por obstáculos epistemológicos, todos os factores que interferem negativamente na produção e desenvolvimento do conhecimento científico. Podem ser exemplos de obstáculos epistemológicos, os preconceitos e dogmas, o conservadorismo da própria comunidade científica, a falta de investimento e de financiamento para a investigação, etc.,etc.

3.a) O senso comum é um conhecimento natural na medida em que é espontâneo, formando-se a partir da própria experiência/vivência, sem necessitar de qualquer aprendizagem ou especialização, sem carecer de qualquer organização ou método.
3.b) É um conhecimento assistemático porque é disperso/desorganizado: as suas concepções e critérios não se encontram sistematizadas, isto é, organizadas sob a forma de teorias, doutrinas ou sistemas estruturadores do conhecimento.
3.c) É um conhecimento pragmático, na medida em que nasce associado à vida, aos temas/problemas do quotidiano, servindo para orientar a própria vida. Neste sentido, é um conhecimento que brota da própria vivência humana, sendo suficiente para contornar ou resolver a maior parte das questões práticas tornando-se, por isso, um conhecimento utilitário.

4. A hipótese corresponde à fase criativa, especulativa e imaginativa da ciência: a hipótese constitui-se como teoria provisória para responder a um problema colocado, associando um fenómeno, um efeito, um acontecimento, a uma causa provável; neste sentido, a hipótese é uma conjectura criativa que irá orientar, posteriormente, toda a investigação, permitindo organizar o conhecimento num sistema teórico.
A lei é um enunciado geral que decorre do processo de validação das hipóteses (teste às hipóteses). Em regra, nas ciências da natureza, este teste assume um carácter experimental. Uma lei científica não pretende explicar um fenómeno isolado, mas um conjunto de fenómenos que mediante as mesmas condições e circunstâncias, se comportam da mesma maneira, permitindo conceber generalizações explicativas (leis).

5. O critério de objectividade, em ciência, é frequentemente assumido como sinónimo de verdade, se bem que a objectividade seja algo de muito menos ambicioso já que nunca saberemos em que consiste “a verdade” no sentido absoluto do termo, uma vez que todo o conhecimento é uma representação racional dos factos, nunca existindo uma coincidência entre o que a realidade é, em si mesma e o conteúdo dessas representações. A objectividade científica traduz, apenas, o grau de adequação entre as teorias e os factos: uma teoria será tanto mais objectiva, quanto mais se aproximar das características objectivas dos fenómenos em estudo e quanto mais se afastar de concepções subjectivas. Para garantir a objectividade, a ciência mune-se de vários procedimentos tais como, a quantificação, a experimentação, a análise estatística, etc.

6. O método experimental, não sendo o único método utilizado nas ciências, é o mais generalizado, compondo-se das seguintes fases ou etapas:
- Formulação de problemas
- Elaboração de hipóteses
- Verificação experimental (que é uma verificação indirecta)
- Formulação da lei (após validação das hipóteses).

7. A conjectura traduz a fase de formulação de hipóteses (que são teorias prováveis, verosímeis). A refutação consiste no teste às hipóteses que pode conduzir a um processo de eliminação/falsificação ou, pelo contrário, a um processo de corroboração; diz-se que uma hipótese foi corroborada quando não foi demonstrada a sua falsidade; assim, a corroboração é um teste de resistência que assegura, por um tempo determinado, que aquela hipótese é a que melhor responde aos problemas colocados numa determinada fase do desenvolvimento do conhecimento científico. Por isso, a corroboração não é, na óptica deste autor, sinónimo de verificação. Uma hipótese corroborada não é uma hipótese verificada, mas um enunciado que exprime uma “ aproximação à verdade”.

8. Com a perspectiva anteriormente exposta, Popper afasta-se da concepção clássica da objectividade científica que assumia que o teste às hipóteses apurava um conceito de verdade e de objectividade que se traduzia na verificação. Para a concepção clássica da ciência a objectividade era um critério que assumia contornos dogmáticos, ao traduzir a autoridade e a durabilidade das “verdades” científicas.

9. Para kuhn, quando se instala um novo modelo explicativo (paradigma) introduz‑se, na ciência, uma lógica de descontinuidade com o paradigma que estava anteriormente em vigor. Os paradigmas são incomensuráveis na medida em que, entre eles, não existe qualquer compatibilidade ou comunicabilidade. A ruptura entre o “velho” e o “novo” é inerente ao próprio progresso da ciência e decorre da própria crise que se instalou, em função da falência do paradigma que foi ultrapassado. Quando mudam os modelos, mudam os processos de investigação, alteram-se os métodos, a linguagem (a terminologia científica) e até, a própria visão do mundo. A incomensurabilidade traduz essa ruptura, esse “abismo”, entre as novas e as velhas teorias.

10. A fase positivista da ciência correspondeu a um determinado optimismo que se instalou, a partir do séc. XVIII, face aos resultados do conhecimento e de algum progresso tecnológico que conferiu segurança e confiança à humanidade, sensivelmente até finais dos sécs. XIX /XX.
Cresceu rapidamente a crença nos poderes ilimitados da ciência e, consequentemente, a sua mitificação: a humanidade depositou na ciência uma confiança excessiva, praticamente equivalente à fé que os crentes depositam na religião como única dimensão salvadora. Assim também o espírito positivista conferiu à ciência esse estatuto de geradora do progresso, da qualidade de vida e, em última instância, da felicidade.

11. A Bioética como área recente que enquadra os progressos da Biotecnologia, procura conciliar a complexa problemática de salvaguardar a liberdade na investigação científica e, ao mesmo tempo, os direitos humanos fundamentais numa perspectiva ética; para isso, procura reflectir e definir os limites que se devem impor à investigação e à prática científicas, de forma a salvaguardar direitos fundamentais. Esses pressupostos estão consagrados nos Princípios Fundamentais da Bioética.

12. A manipulação genética beneficiou dos progressos realizados, particularmente, nos domínios da biologia, da genética e da biotecnologia.

13. O valor da liberdade e identidade individual e da preservação da identidade e singularidade das espécies e da pessoa humana em particular.

14.Transição de regimes autoritários e absolutos para a democracia (na antiguidade clássica grega – em Atenas, no séc. V.a.C).
A definição e o exercício do poder político deixou de ser uma causa privada, tornando-se uma causa pública. Criaram-se instituições públicas que assumiram a qualidade de centros decisores e reguladores do exercício do poder político, administrativo e judicial (as Assembleias e os Tribunais).
O Estado democrático consagrou a isonomia como garante da cidadania, fixando a igualdade dos cidadãos perante a Lei.

15. Sendo a cidadania apresentada como “ o dever de cumprir a lei justa e o dever de se opor à lei injusta”, remete para uma noção definida e regulada pelos cidadãos. De facto, seria impossível conceber a cidadania como algo afastado e alheio ao cidadão; a cidadania tem no cidadão o seu núcleo e o seu centro criador e regulador, na medida em que é uma criação pública, decidida no colectivo e por todos participada. Tanto na antiguidade como hoje, nas sociedades democráticas contemporâneas, quanto mais os cidadãos se demitirem de reflectir, participar e vigiar as decisões tomadas nos centros políticos decisores, mais frágil será a cidadania, uma vez que esta pressupõe uma participação activa e permanentemente vigilante de todos os cidadãos sobre o poder político. A cidadania abre, de facto, o espaço quer para o cumprimento da lei que estes reconheçam como justa, quer para a “rebelião” perante leis que introduzam lógicas de viciação e ataque aos direitos e deveres sentidos como justos, pelo colectivo de cidadãos. Num Estado de Direito (democrático) a “rebelião” dos cidadãos exerce-se, em regra, pelo voto, mas nos estados em que já se subverteram todas as lógicas de respeito pelos direitos dos cidadãos, a “rebelião” pode assumir contornos violentos e incontroláveis, convertendo-se em formas revolucionárias de contestação ao poder que os cidadãos já não reconhecem como justo e legítimo, procurando obter “na rua”, aquilo que já não conseguiram alterar pelo exercício do voto.