sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dossier 3º Período: Epistemologia de Kuhn

Thomas Kuhn (1922 – 1996)
Nasceu a 18 de Julho em Cincinnati - Ohio (Estados Unidos)
Professor de Filosofia e História da Ciência em Harvard, Berkeley e Boston
(Especialização em Física)

Thomas Kuhn, tal como Popper, é um epistemólogo contemporâneo interessado em explicar as lógicas de desenvolvimento do conhecimento científico. Apresenta, no entanto, uma perspectiva que não sendo em todos os aspectos oposta à de Popper, é diferente no que toca à linguagem utilizada (aparelho conceptual) e, fundamentalmente, no que respeita à sua visão descontinuísta da história e evolução da ciência. Mudou por completo a noção que se tinha sobre o progresso científico. Anteriormente, pensava-se que a ciência progredia de forma contínua, por melhoramentos consecutivos, que iam sendo adicionados por sucessivos cientistas. Na sua célebre obra A Estrutura das Revoluções Científicas (1962) defendeu que os grandes progressos da ciência não resultam de mecanismos de continuidade, mas sim de mecanismos de ruptura. Uma ciência que evolui de forma contínua atravessa uma etapa do seu desenvolvimento designada, nesta teoria, por Ciência Normal. Durante esse período, o mundo ao qual essa ciência se aplica é visto por todos os seus praticantes segundo uma mesma perspectiva. Todos vêm o mundo da mesma maneira. A certa altura, alguns dos praticantes dessa ciência começam a descobrir contradições internas e chegam à conclusão que a forma de ver o mundo em que essa ciência se baseia não é adequada. Começam a descobrir que o mundo devia ser olhado de outra maneira. Às diversas formas de ver o mundo segundo determinados Modelos Teóricos vigentes, Kuhn chamou paradigmas. Quando alguém descobre um paradigma distinto, sobre o qual é possível basear o desenvolvimento duma ciência, diz-se que a ciência é, durante esse período, uma Ciência Revolucionária.
Segundo Kuhn, uma ciência evolui por etapas que ora são de evolução normal, ora de ruptura revolucionária, sendo as rupturas revolucionárias que mais contribuem para o progresso dessa ciência. Na Astronomia, por exemplo, durante muitos anos acreditou-se no paradigma geocêntrico, segundo o qual o Sol rodaria à volta da Terra. Todos os cálculos matemáticos da altura, realizados sobre os movimentos dos planetas, confirmavam que o paradigma geocêntrico era o correcto. A certa altura, no entanto, alguns astrónomos e físicos começaram a conjecturar que as irregularidades que detectavam em alguns dos cálculos só poderiam ser explicadas se a Terra rodasse em torno do Sol, e não ao contrário. Durante muitos anos, as suas convicções provocaram fenómenos de perseguição e rejeição social, acusações de heresia e, em alguns casos mais extremos, a perda da própria vida, imolada nas fogueiras da Inquisição; mas, a partir de certa altura, os cálculos começaram a confirmar que, de facto, a razão estava do lado deles e o paradigma heliocêntrico impôs-se.
É curioso observar que Pedro Nunes, o nosso maior matemático e um dos grandes matemáticos do mundo, na sua época, não aceitava o paradigma heliocêntrico, contrariando, assim, um número já significativo de contemporâneos seus. A razão que hoje se avança para explicar essa estranha posição é que na época os cálculos de previsão do movimento dos planetas se apresentavam muito mais rigorosos quando se recorria ao modelo geocêntrico, enquanto que o modelo heliocêntrico conduzia a anomalias de cálculo que ninguém, na altura, sabia explicar.

Para Kuhn a ciência é naturalmente conservadora, reproduzindo a atitude natural do homem à qual não se furta, também, a própria comunidade científica: é muito mais seguro e cómodo conservar os modelos explicativos (Paradigmas) do que submetê-los a sucessivos exames e transformações. A comunidade científica procura naturalmente conservar os paradigmas vigentes, resistindo o mais possível às mudanças impostas pelas novas conjecturas, procurando resguardar as “verdades” já constituídas de qualquer crise iminente. Este espírito dogmático (resistente à mudança) ocorre na fase designada por “ ciência normal”. Nesta fase, toda a comunidade científica trabalha no sentido de consolidar / conservar as explicações consensualmente em vigor, resistindo a toda a inovação e aos conflitos de posições que possam pôr em risco a estabilidade dos modelos científicos.
Porém, quanto maior é a obstinação da comunidade científica em defender um modelo ou uma teoria ultrapassada, mais se manifesta a necessidade de a substituir: quanto maior é a resistência em reconhecer a eficácia explicativa dos novos modelos, mais acelerada é a crise que procuraram evitar e maior é a ruptura entre os modelos caducos e os novos modelos (novos paradigmas). Esta é a dinâmica que corresponde à REVOLUÇÃO na CIÊNCIA, da qual resultará uma fase de Ciência Extraordinária – fase que já encerra o novo paradigma que passará, à semelhança do paradigma anterior, por um período mais ou menos longo de desenvolvimento e consolidação (Ciência Normal), até se verificar a emergência/necessidade de uma nova Crise.

Conclui-se, assim, que mesmo que a ciência encerre, temporária e naturalmente, alguma tendência dogmática, esta será sempre ultrapassada pelo próprio dinamismo inerente ao progresso científico. A natureza da ciência é avessa a qualquer espécie de dogmatismo e de conservadorismo.

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